Nunca é tarde para....

Estou arrasada, quase chorei hoje. Foi um sentimento de derrota, misturado com angustia e baixa auto-estima. Burra. Isso mesmo. Literalmente.
Terminei meu curso de holandês semana passada. Quinta-feira foi o último dia e fizemos o teste final. Depois saímos para tomar uma cerveja com o pessoal do curso e a professora. A prova não estava difícil. Gramática estava tranquilíssimo, mas a questão sobre vocabulário foi a pior. Havia 20 frases e 20 palavras para completar. Eu só sabia 5 palavras do total, sério. Não estudamos aquelas palavras em sala de aula e mesmo assim lá estavam as malditas. Tentei chutar, mas lógico, não funcionou.
A nota da prova com meu desempenho viria pelo correio no envelope que preenchemos com nosso endereço.
Hoje lá estava em casa a carta me esperando.
Primeiro dizia que eu fiz 36 horas de curso em sala de aula, mais 36 horas de estudos em casa, num total de 72 h de curso de Holandês. Legal né, tenho um certificado com o numero de horas que fiz. Depois vem escrito assim: Resultados de Vocabulário / Gramatica: fraco.
O objetivo do curso era  adquirir vocabulário e aprender a gramática dada em sala de aula, dizia a carta.
Resultado final: failed. Reprovada!
Que dorga de carta, além de falar que eu estudei um monte de horas, eu falhei, me chamou de burra mesmo.
Não sei o que senti, se foi raiva de mim, se foi raiva do curso. Acho que primeiro foi raiva do curso, que colocou um monte de palavras que não trabalhamos em sala de aula. E todo aquele vocabulário de comida, roupa, adjetivos, não caiu nada. Nadinha.

Depois senti raiva de mim, que não estudei como deveria. Não estudei as 36 hs como estava escrito na carta, consegui estudar umas 3 horas por semana, máximo, em 8 semanas (24h )parece muito, mas não foi suficiente, visto que eu reprovei.

Para quem estudou comigo sabe que fui a maior nerd da classe. Claro que sempre tinha outras meninas mais nerds, eu sempre era a segunda da classe, mas estava lá na patotinha das que tirava 9 e 10. Lembro que por muitos anos minha nota mais baixa foi 7,5. Não que eu fosse inteligente, inteligência não é medida por prova nenhuma, mas eu gostava das aulas, gostava de aprender, gostava de estudar, decorava mesmo muita coisas.  Eu tinha um caderno de estudos onde eu escrevia tudo de novo a matéria que ia cair na prova e na hora de estudar eu imaginava a pergunta que a professora faria e respondia por escrito. Durante o colégio nunca colei, passava cola, trocava de prova com os amigos, depois de fazer a minha, fazia a dos amigos também. Muitas colegas de classe vinham em casa para estudar comigo. Meu caderno era o xerocado antes da prova para a classe inteira estudar. Eu anotava tudo que os professores falavam. Só teve uma vez que tirei um nota vermelha na minha vida, foi uma aula de botânica econômica. Eu tinha ido numa festa na faculdade no dia anterior a  prova e não havia estudado nada. Eu nunca vi o resultado da prova, mas pela media de notas, eu deduzi que tirei 3. Mas como eu não vi a nota vermelha, não doeu.

Agora hoje, com a carta na mão, dizendo que eu estudei 72 hs de holandês e que eu reprovei, doeu. Doeu muito. Acho que se eu fosse criança eu teria chorado. Eu sei que não me dediquei o quanto deveria, mas também só se eu fosse mulher de ferro e com sangue de barata. Nesses 2 meses de curso, minha vida virou de pernas para o ar, meu chefe brigou comigo por isso vou defender o doutorado o mais rápido possível, então comecei a escrever a tese, terminar experimentos que faltavam, e além do stresse de resolver a situação com o chefe, que até hoje continua sem resolver. A incerteza do meu futuro, voltar para o Brasil, continuar aqui e onde, tudo isso tomava meus pensamentos. Hoje quando cheguei na minha casa em Amsterdam no início da noite, a Larissa, uma das meninas aqui de casa, de 9 anos, falou que fazia quase 2 meses que não me via. Eu estava saindo as 7 da manhã e voltando para casa as 11 da noite todos os dias, e nunca encontrava as crianças acordadas. Ou seja, minha vida estava uma turbulência. Mas entre ler os artigos científicos para escrever a tese e estudar holandês, li os artigos. Questões de escolhas. Mas tudo isso não justifica a minha falta de aplicação com o curso de holandês.

Eu gostei bastante do curso, mas parece que não o suficiente para ir bem no teste. Eu aprendi bastante, mas segundo a prova (ridícula) eu não aprendi o suficiente.
Enfim, haverá outro teste em dezembro, e acho que vou fazer só de raiva. Mostrar que sou capaz de passar no teste maldito.

Nunca é tarde para reprovar de ano. Sempre há uma primeira vez. Lição aprendida: se dedicar mais as coisas que se compremeteu a fazer.

Agora recebo um email do Sebrae sobre o curso a distância que resolvi fazer no meio do meu desespero de largar a vida acadêmica e partir para outra. As portas estão abertas. Mandei currículos no Vagas. com no Catho e vou fazer esse curso para inciantes que pretendem abrir seu próprio negócio. Eu não tenho nem ideia que "próprio negócio"eu queria ter, mas esse curso vai me mostrar se eu tenho ou não habilidade em ter minha pequena empresa, o que eu acho que não, mas enfim, não custa tentar. Vou me dedicar dessa vez. E espero que não tenha prova!! hehehehe Não quero mais repetir.