quarta-feira, 30 de abril de 2014

Sobre amamentação



Confesso que só de pensar em amamentar me dava calafrios. Que coisa mais animal, estranha, primitiva, sair leite do meu corpo, o mesmo tipo de leite que tomo todos os dias, e uma pessoa sugando esse leite, ARHH.
Nunca me senti confortável em ver mulheres tirando o peito pra fora em público para amamentar uma criança, eu achava constrangedor. Como que a mulher perde a vergonha de mostrar o peito em público? O que acontece com a mulher que perde todo o pudor? Eu não me via amamentando, quanto mais, em público. E só de imaginar um bebê sugando meu seio, era algo horripilante! Não gostava nem de pensar!
Outro ponto contra a amamentação que ficava na minha cabeça era a perda da independência da mulher, não podendo sair e deixar o bebe com ninguém para fazer suas coisas.

Dizem que a maternidade muda a mulher e é a pura verdade! Para mim começou a mudança nesse ponto.

Durante minha gestação, me informei bastante, li muito sobre parto, sobre amamentação, sobre criação de filhos e mil coisas sobre o universo da maternidade. Bispo, já sabendo da minha repugnância em amamentar foi calmamente dando argumentos sobre a vantagem do aleitamento materno, e eu escutando, amadurecendo a ideia e não pensando muito sobre a cena em si, deixando para quando tiver o bebê em meus braços. Só decidi que daria uma chance para a amamentação mesmo quando o Murilo nasceu, quando vi seus olhos grandes me fitando, vi sua carinha delicada, seu corpinho frágil e magrinho, e pensei “Darei o que for preciso para meu amor que acabou de nascer”.

E foi aí vieram os testes, a prova divina para ver se eu estava mesmo disposta a amamentar meu filho, desafios que falarei em detalhes no próximo post.
Não foi fácil aprender a amamentar, foi dolorido, foi difícil, e mesmo assim eu estava disposta a seguir em frente. O que aconteceu comigo??? Os hormônios me dominaram? Virei mãe? Por que essa luta, esse esforço para amamentar? Por que ficar com os seios doendo? Por que deixar meu bebê chorando de fome por não saber mamar e se era muito mais fácil, rápido e indolor para todos dar-lhe mamadeira com fórmula? Sinceramente, não sei a resposta dessas perguntas, só sei que sim, eu insisti em amamentar, sim, amamento meu filhote.

Hoje amamentando exclusivamente e em livre demanda, consigo esclarecer algumas coisas e as inúmeras vantagens do aleitamento materno. Se vocês procurarem na internet encontrarão muitas vantagens sobre o aleitamento materno, não quero aqui falar sobre isso, mas sim dar meu ponto de vista sobre a questão.

1- Somos animais mesmo. Por mais que na minha cabeça e de muitas outras pessoas, humano é humano e os outros mamíferos são meros animais muitos distantes de nós, "primitivos" e selvagens, depois que meu filhote nasceu tomei ciência que sim, somos animais, tão selvagem quanto os demais mamíferos e não há vergonha nisso, é o que somos e ponto final. Não podemos ter vergonha do que somos, somos isso e pronto. Essa consciência iniciou no trabalho de parto, onde eu gemia e gritava como uma leoa parindo no meio da savana. Quando meu bebê nasceu eu só queria ele perto de mim, queria sim dar o peito pra ele, queria ser única responsável por sua alimentação, queria ser a coisa mais importante na vida daquele pequeno ser que acabara de nascer. De onde veio tudo isso? Só pode ser o instinto animal que há em todas nós.

2- A transferência de anticorpos.  Agora questões mais racionais. O leite materno nos dá segurança contra as doenças. O medo que temos de nosso bebê ficar doente é amenizado em saber que pelo leite materno estamos passando anticorpos para o bebe,  que diminui o risco de ficar doente. E realmente isso é verdadeiro. A filha da minha prima que tem quase dois anos, que mamava exclusivamente com leite materno até 6 meses, nunca ficou doente, nunca pegou sequer uma gripe. Sabendo disso, fico mais tranquila em sair com bebê na rua, cheio de vírus e bactérias pelo ar. Outro ponto, minha avó estava com herpes-zoster, uma doença causada pelo mesmo vírus que a catapora, só que ataca os nervos, doe pra caramba e forma umas manchas horrorosas sobre a pele por cima do nervo atacado. Como eu já tive catapora, já tenho anticorpos e estou passando para meu bebezinho, portanto, não preciso me preocupar.

3- Praticidade. É muito prático acordar de madrugada e apenas tirar a blusa para alimenta-lo. Para preparar uma mamadeira com certeza eu demoraria mais do que demoro hoje, poupando minutos preciosos de sono que todas os pais clamam!

4- Econômico. A economia é sensacional. Uma amiga disse que gasta 50 reais por semana com fórmula. Eu não gasto nada para alimentá-lo, gasto sim para eu comer, mas gastaria mesmo sem o bebê, certo? Entretanto, gasto com muitas fraldas pois o leite materno faz o intestino do bebê funcionar muito bem!

5- Dois alimentos em um. O leite materno além de matar a fome, mata a sede também. O leite materno tem 3 fases, a inicial é composta por soro, uma fase mais líquida e proteica, que mata a sede. A fase mais gordurosa do leite vem no final, saciando a fome.

Claro que tem outros fatores, o aleitamento materno ajuda o desenvolvimento maxilo-facial do bebê, diminui o risco de obesidade, etc etc.

Hoje eu não acho mais horrível ver uma mãe amamentando seu bebê, mas eu particularmente não me sinto confortável em fazê-lo em público, sei lá, mas não ligo mais para as mães que conseguem, aliás, acho um exemplo de coragem e amor, amor ao filho em primeiro lugar e que o mundo se dane.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Relato de Parto- carta ao meu bebê

Toda vez que me perguntavam que tipo de parto eu ia ter, se era normal ou cesárea, eu sempre respondia que não era eu quem escolhia, e sim o bebê, e só na hora ia saber como ia ser. E realmente foi ele quem escolheu. Murilo nasceu dia 17 de março de 2014, as 9:42 com 3,245 kg e 50 cm no hospital Renascença em Campinas. Nossa equipe foi Dra. Mariana Simoes, Dra. Priscila Huguet, Leyla (doula) e Dra. Maria Otília, às quais agradeço profundamente por terem me ajudado a ter meu bebê.
Agradeço aos grupos Samaúma e Lua Nova por me ajudarem a me preparar para o parto e para esta nova fase da minha vida. 
E agradeço, por fim, mas não menos, ao meu marido que me deu meu maior tesouro.


Sempre soube que um dia iríamos no reecontrar. Mas nunca pensei muito quando e como seria, talvez por isso o choque quando descobri que estava grávida. Medo, desespero, será que vou dar conta? Eram minhas angustias.
Passaram os meses e a barriga foi crescendo. Vi sua carinha no ultrassom, sentia você mexendo dentro do meu ventre mas era difícil de acreditar que tinha um bebê dentro de mim que em poucos tempo você estaria nos meus braços. Conversava muito com seu pai, sobre como educar você, como cuidar de você, como faríamos nessa e naquela situação. Líamos muitos livros, muitos blogs, sites, muitos relatos de mães, conversámos com amigos pais,  tudo para me preparar para quando você chegasse.
Aos poucos fui acostumando com a gravidez e até gostando! Dizem que os filhos vem para nos ensinar muitas coisas nessa vida e sei hoje pelo menos uma coisa que você veio me ensinar, a esperar.

Com 40 semanas e 3 dias a bolsa rompeu, era uma sexta-feira, mas as contrações só foram aparecer no domingo dia 16 de março. Sem sinal trabalho de parto, a nossa doula, Leyla, veio na sexta e no sábado a noite verificar se estava tudo bem com você e continuei com minhas atividades normais.

No domingo, às 14:15 a lua mudava para Lua cheia, e foi exatamente nessa hora, sem exageros, que senti a primeira contração que eu achava que era forte. Chorei de dor, de medo, de desespero. Não daria conta! Seu pai me acalmou e falou para ligar para Leyla, já tínhamos contrações suficientes. Ela por telefone me acalmou, falou para respirar e disse que passaria pra me ver.
Quando ela chegou eu não estava conseguindo lidar com a dor e ela com toda calma e firmeza me ajudou e após me acalmar, ela saiu para um compromisso e voltou umas 2 hs depois, horas que eu consegui ficar muito bem.

As horas passavam de forma estranha, não era linear, quando percebia passaram 3, 4 horas, e eu estava concentrada no meu corpo. Uma música calma tocava  no rádio para tentar me acalmar. Uma coisa que eu lembrava constantemente que eu havia escutado no grupo de gestante era “Não tente vencer a dor, você não vai conseguir, lide com ela”! E assim eu lidava, sentava na bola, na baqueta, andava, mas o que aliviava era ficar de pé, mas isso foi minguando minhas energias, estava cansada, com muito sono, mas dormir, deitar era impossível. Às 11 da noite tomei um dramin e um buscopan para tentar dormir, pois ainda faltava muito para você chegar, precisava descansar. Mas a cada contração, eu acordava e depois cochilava novamente. Seu pai e Leyla puderam descansar um pouco. Mas teve uma hora, acho que era 1 h da manhã, que eu não aguentei e acordei a Leyla pois não estava aguentando a dor. Eu já estava com 6 cm de dilatação do colo do útero, mais da metade! Que alívio, era sinal que estava perto! Daquele momento até dilatação total ia ser mais rápido. Mas não. Ela verificou seus batimentos e já acordou seu pai para irmos para o hospital. Enquanto preparávamos as coisas ela ligou para Dra. Mariana que nos encontraria lá.

Chegamos em 2 min no hospital e enquanto seu pai fazia a parte burocrática do hospital esperamos no estacionamento e lá, continuei lidando com as contrações, respirava fundo, e vocalizava ao expirar o ar, isso aliviava muito a dor, eu cheguei até a dormir no carro. Tínhamos que esperar Dra. Mariana para entrar na sala de parto. A espera e a burocracia demorou muito na minha contagem de tempo, mas finalmente consegui entrar na sala de parto.

Já na sala de parto, Dra. Mariana acompanhava seus batimentos continuamente. Já não estava tudo tão normal. Dilatação já havia chegado a 8 cm, estávamos quase lá. Tive que ficar deitada para melhorar seus batimentos, e doía mais forte, mas era o melhor para você e assim eu ficava. Fui para a banheira e lá tive um grande alívio. Seu pai sempre do meu lado, preocupado pois eu não havia comido nada após o almoço, ele me fazia comer chocolate, me dava água, me abraçava, me dava apoio, ficava do nosso lado o tempo todo. Na banheira ela me abraçava e fazia massagem em mim e assim pude descansar, até dormir nos intervalos entre as contrações eu consegui.

Passado o tempo na banheira, voltamos a verificar seus batimentos que já mostrava sinais de cansaço e eu já estava com dilatação total, 10 cm! Estávamos quase lá. Pela janela vi que o dia amanhecia, mas o tempo para mim era surreal, estava na partolândia que todos falam, não escutava mais nada, não falava mais nada, apenas sentia o meu corpo, sentia dor e cansaço. Não estava aguentando mais, pois eu esperava e o período expulsivo não vinha, ficava deitada de lado para melhorar seus batimentos, você estava cansado e eu também. Pedi anestesia, não ia ter forças até o final. Entrei na banheira novamente para tentar aliviar a dor enquanto aguardava a preparação do centro cirúrgico para anestesia, mas a água não era mais tão boa quanto antes, nada mais aliviava minha dor.

Fui para  o centro cirúrgico. Receber a anestesia foi horrível, pois tinha que ficar imóvel durantes as contrações enquanto furavam minhas costas, mas o alívio que veio em seguida foi imediato. Saí da partolândia, retomei um pouco da consciência, as bem tanto assim. Era hora de fazer você nascer, mas não estava tudo tão normal. Você estava com o corpinho transverso, apesar da cabecinha encaixadinha para sair. Eu ficava de lado para tentar fazer você virar, mas era em vão. Dra Mariana chamou outra médica, a Dra. Priscila, para ajudá-la no parto e entender o que você estava fazendo dentro da barriga da mamãe. As duas tentavam te virar. Seus batimentos eram acompanhados continuamente. Seu pai já estava na sala assim que recebi a anestesia e ficou do meu lado o tempo todo, acompanhando todo o procedimento. Ele percebeu que seus batimentos não se recuperava tão facilmente após as contrações quanto antes. Havia uma tensão no ar. Mecônio. Sua pediatra, Dra. Otília chegou e preparou as coisas para te receber e eu escutei falar do aspirador. Achei estranho, pois não íamos aspirar, mas Dra. Otília falou que deixava tudo preparado para caso precisasse. Fiquei mais tranquila. Estava ainda fora de mim entre a terra e a partolândia. As médicas conversavam entre elas. Viraram o tococardiograma para seu pai não acompanhar mais. Dra. Mariana disse que estávamos quase lá e uma emoção muito grande tomou conta de mim e chorei, pois foi naquele momento que me dei conta que você estava chegando.
Leyla ficava do meu lado também me dando apoio e me guiando, dizendo para fazer força quando vinha as contrações, pois eu já não as sentia. Força, força e nada de você querer nascer. Fiquei mais algumas vezes deitada de lado para tentar te virar. Mas nada. Faço força, e nada. Dra. Mariana explicou que tínhamos que acelerar seu nascimento pois você começava a sofrer, ela disse que tentariam bomba à vácuo, se não desse, seria o fórceps e em último caso a cesárea.
Cesárea não! Cheguei até aquele momento, 10 cm de dilatação sem anestesia, fiquei com bolsa rota por 3 dias, esperando sua hora de nascer, não queria cesárea, não queria cirurgia, seria difícil depois para eu ficar com você e me recuperar da cirurgia. Mas claro, se não tivesse jeito, você nasceria por cesárea mesmo! Mas sabia que você viria antes disso.
Primeiro foi o vácuo. Nada. Depois foi o fórceps. A cada contração, eu fazia força e Dra. Priscila também te puxava. Nada. Mais uma vez. Mais outra vez e depois de muito esforço, seu, meu e da médica, você nasceu.  Com os olhos aberto e com o rostinho voltado para a lua! Menino de sorte, foi o que disseram!
Foi rápido. Já cortaram seu umbigo e Dra. Otília te pegou para aspirar suas vias áreas, para evitar de você aspirar mecônio. Você nasceu roxinho, cansado e nem chorou. Eu chorei. Por mim e por você.  Eu ainda não estava acreditando, como esse bebezinho estava dentro de mim? A vida realmente é impressionante!
Você se recuperou logo e em seguida veio para mim e eu pude te abraçar e te dar boas vindas à vida aqui fora.




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