terça-feira, 2 de março de 2010

O trem para Roma: o pesadelo

Voltando a nossa história, a madrugada do dia 30 para 31 de dezembro foi o auge da aventura, o auge do medo, desespero, um verdadeiro pesadelo.
No trem para Roma, procuramos nossas cabines e para começar a bagunça, havia uma pessoa em um dos nossos lugares. Cada cabine tinha 6 lugares, uma poltrona com 3 lugares de cada lado, de frente uma para outra. Eu acordei a menina e ela se levantou, coloquei todo mundo na cabine, e eu, o Bispo e a Marina fomos para a cabine do lado, onde havia 2 meninos e um negão enorme, bebendo cerveja e vodka. Os três estavam bebaços, e a cabine fedia. Não tínhamos opção, tivemos que ficar ali.
O negão inspirava medo, começou a conversar, a fazer mil perguntas e a minha tática nesses casos é ser simpática. A tática do Bispo e da Marina foi ficarem calados. Não queria zangar o tiozão. Eu sentei entre ele e a Marina, para não deixá-la sozinha do lado dele, mas ai o tio falou para eu sentar do lado do meu namorado, e tal, ai eu sai.
Ele não parava de beber, estava caindo, muiiito bêbado. Conversei um pouco com ele, na verdade ele quem falava mais. Ele disse que era casado, tinha 3 filhos, que era dos Estados Unidos, que ele achava a polícia italiana corrupta, que a polícia já tinha tirado 700 euros dele, e blá blá blá. Eu estava morta de cansaço, mas não conseguia dormir preocupada dele roubar a gente, ou pior, fazer algum mal. O tio saiu da cabine para fazer sei-la-o-quê e perguntei para um dos meninos se o tio estava com eles, pois não pareciam amigos, apenas companheiros de bebedeiras. O muleque idiota, tinha 19 anos, e tinha uma passagem para 3 pessoas, o terceiro amigo dele não pode vir e esse tio apareceu lá se juntou a eles. O muleque disse que o tiozão era gente boa e tal, harmless, sei sim. No meio dos meus cochilos abria os olhos e o tio estava virando a garrafa de vodka goela abaixo. Outra hora ele queria fumar e perguntou para um dos meninos se ele tinha cigarro, e ele respondeu que ele não fumava pois ele tinha asma, ai o tiozão, pegou a mão do menino e começou a curá-lo da asma. O tio disse que de agora em diante, ele poderia ir ao médico que não teria mais asma, ele estava curado. O outro menino, percebendo que não estava muito bom o local, saiu para fumar e não voltou nunca mais.
No meio da noite, o tiozão dormiu, ou melhor, entrou em coma, capotou na poltrona. Foi nossa sorte, mas que também não durou muito. Uma hora o trem virou, chacoalhou ou sei lá o que, que fez o tiozão cair, rolou pela cabine e ficou esticado no chão sobre nossos pés com o braços nos nossos colos. O menino que ainda estava na cabine, tentou levantá-lo, claro que sem nenhum sucesso. Foi a gota d'água. Saímos imediatamente e procuramos algum lugar vago em outra cabine. Não queria saber mais, mesmo se outra pessoa chegasse eu sairia e procuraria outro, mas não voltaria mais para aquele lugar.
Dai em diante consegui dormir um pouco e fui acordado com uma gritaria no corredor. Adivinhem?
O tiozão dando trabalho de novo. A mulherzinha que checa os tickets dos passageiros bateu lá e o tiozão estava sem o bilhete pois os moleques saíram da cabine e o deixou sozinho. Ai começou a gritaria. O tio falava que ele serviu no Iraque, que se ele tivesse uma arma ele mataria todo mundo, que atiraria nela, ficou super agressivo, foi uma confusão, todo mundo no corredor, gritaria, até que a polícia chegou e o tirou do trem.
Ele deveria ser doente mental, com distúrbio bipolar, sei lá, pois no início ele era simpático, prestativo, cristão, religioso, depois virou o demo, agressivo, bruto. Por isso que estávamos com medo dele desde o início, não era uma pessoa normal, já de cara percebemos.
Meia hora depois chegamos em Roma, são e salvos, mas totalmente quebrados, cansados e com sono. Eram 9 e pouco, tomamos café da manhã na Estação Termini em Roma e esperei dar 10 horas para ligar para o escritório para pegar a chave do apartamento que alugamos. Toca toca e a secretaria eletrônica dizia, em italiano, que o escritório abria depois das 10 aos sábados, e já eram 10! Ai meu Deus, meu medo de ter alugado um apartamento que não existia cresceu ainda mais. Não era pelo dinheiro, paguei 200 euros de reserva, era pelo fato de ser 31 de dezembro e não termos onde ficar. Liguei as 10:15 e para meu alívio, um cara atendeu. Pelo menos havia alguém lá.

Um comentário:

  1. Ai Robs, só você mesmo!!!!! Hahaha, ser simpática com o tiozão foi o máximo!! Morri de rir com sua história!!
    Bjs,
    Cacá

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