quarta-feira, 15 de abril de 2009

As pessoas

Hoje vou começar a contar um pouco das pessoas daqui, tentar mostrar que ao mesmo tempo que são tão diferentes, possuem os mesmo anseios, os mesmos sentimentos, as mesmas dúvidas e pensamentos.

Tudo começa na infância. Antes disso, no parto. Aqui na Holanda o que é natural é sempre melhor, custe o que custar, logo, parto normal é e melhor forma para se nascer, tudo sem anestesia como nos velhos tempos. Os médicos evitam ao máximo parto cesariano, algo que no Brasil é tão comum, rápido, fácil e indolor, aqui só se faz a cirurgia em último caso, último caso mesmo. Mês de Março tive duas amigas que tiveram bebê, Lu, chinesa 35 anos, primeiro filho, e Gilda, Cabo-verdense, 27 anos também primeiro filho. Fui visitar Lu há 2 semanas, teve uma linda menina de olhos puxados, porém enorme para um recém nascido, fiquei assustada com o tamanho, nasceu com mais de 4 kg. E adivinhem, ela teve parto normal, que de normal não teve nada. Primeiro, ela ficou horas tendo contrações e nada de dilatação, segundo, com um bebê deste tamanho era sacanagem ter parto normal, terceiro, ela está 35 anos, a possibilidade de ter complicações com essa idade é alta. Mas mesmo com todos os poréns, os médicos, ops, desculpe, médico aqui é Deus, você nunca vê mas sabe que eles estão lá em último caso, melhor dizendo, parteira (tem um nome holandês para essas mulheres que fazem o parto, e não são enfermeira, sequer médicas)conseguiu tirar o bebê com o maior sacrifício, usando forceps e tudo, e claro, depois de todo o esforço, a recém mamãe perdeu quase 3 litros de sangue (só para lembrar, nós mulheres temos em média 5 litros de sangue). Lu ficou alguns dias na UTI, sobreviveu, mas não foi fácil.

Gilda, mais nova, teve horas de contração, horas sofrendo, só no último minuto que decidiram lhe dar anestesia. Mas tiveram que cortá-la, usar bomba de sucção, mil coisas. Ela disse que no momento que o liquído entrava em sua coluna, a dor ia sumindo instanteneamente. E eu me pergunto, precisava faze-la sofrer? Talvez eles pensem como o Bispo, só a dor é positiva (frase de Schopenhauer), pois a dor nos traz os melhores aprendizados, acho que nesse caso, a lição é: filhos nunca mais.

Além do sofrimento, o que as duas tiveram em comum foi o fato que depois de tanto sofrer elas queria descansar, dormir, se recuperar. Que ver o bebê que nada! Dar aquele beijo no bebê ensanguentado, com aquele sorriso sobre o rosto suado, cansado só existe em filmes mesmo, pois não houve dor, não houve quase morte, tudo é mentira. Começa ai o primeiro sentimento do bebê.

Depois que a nova família chega em casa, uma mulherzinha vai ajudar a cuidar do bebê ensinar como cuidar, quanto de leite deve dar, quanto banhos por semana, etc. Primeiro, se o bebê chorar, não se deve imediatamente pegá-lo no colo e acalmá-lo. Chorar até 15 min é saudável e o bebê vai saber quem manda na casa. Banho, não se deve dar mais de 3 por semana, dizem que faz mal para pele da criança (na verdade a água aqui é muito pesada e o sabonete fortíssimo). Se a mãe não tem leite, não tem problema, tem leite em pó mais nutritivo para os recém nascidos. E assim vai a lista de absurdos.

Quando a criança cresce, elas são ensinadas a serem independentes, responder pelos próprios atos, ter liberdade. Ficamos impressinados quando observamos as crianças nas lojas, nos parques, nas praças. Elas simplesmente fazem o que querem, sujam a roupa, caem, se molham, se arriscam, e os pais parecem não ligar. Elas sabem que se molharem a roupa num dia frio, não terão outra para trocar naquele momento. Sabem que se cair, azar o dela, quem vai se machucar são elas. Os pais apenas mostram as consequências, se elas quiserem se arricarem, o problema é delas. Um vez vimos um criança brincando com um boné na estação de trem, com o vento o boné voou e caiu na linha, daria para o pai ir buscar, pular lá rapidinho antes do trem vir, mas quem jogou o boné lá, acidentalmente ou não? O moleque, azar o dele então. No museu do Nemo ano passado, mil crincinhas brincavam de se equilibrar na borda do chafariz, era apenas um desequilíbrio que elas cairiam na água que havia dos dois lados. Não estava tão calor assim, apesar do sol. Os pais onde estavam? Tomando café nas mesinhas sob o sol, sem se preocupar com nada, não havia nenhma mãe gritando "Sai dai muleque, você vai se molhar". Esse modo de educar livremente, de deixar as crianças perceberam as consequências das ações o que acho bastante interessante. Nunca vi nenhum mãe gritando com o filho para não por a mão na terra, para não sujar a roupa, para por determinada roupa (as crianças vestem o que querem,sábado é comum ver meninas com roupas de borboleta, bailarina, com sandálias da mãe).

Bom, para finalizar, com todos esses traumas de infância, o indivíduo sai de casa aos 18 anos, ainda muito jovem, e só visita os pais de vez em quando, em feriados e dias importantes como dias dos pais ou das mães.

Só para comparar no Brasil, salvo algumas exceções, só saimos de casa para casar e muitas vezes acabam morando no fundo da casa, ou dentro da casa dos pais ou nas redondezas e quando moramos a uma distância que se precisa usar meio de condução para para chegar, visitamos nossos pais toda semana (e ligamos quases todos os dias.

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