domingo, 25 de abril de 2010

Dia 9 de março: almoço na casa do Rajesh

E mais um pouquinho de India. Um dia acabo de contar. Espero que antes da próxima viagem: Hungria no começo de junho.

Acho que descobri uma maneira de lidar com o blog: durante a semana eu farei posts pequenos através do celular durante a volta para casa depois do trabalho, sobre  pequenos acontecimentos e algo interessante e, no final de semana, quando tenho mais tempo, contarei em mais detalhes sobre as viagens, que tal? Gostou? Se tiver alguma sugestão será bem vinda!

Bom, vamos lá!
Esse foi um dos dias mais especiais na India para mim, conhecer a família do Rajesh e almoçar na casa dele.
Conheci Rajesh no laboratório em Groningen em 2008, aluno de PhD, indiano moreno escuro, não diria negro, pois não é nada parecido aos negros que temos no Brasil, é uma cor diferente. Rajesh é magro, sempre está bem arrumado, de camisa e calça social, olhos bem escuros, que não dá nem para ver a pupila. Uma pessoa muito gentil, amiga e sincera.

Em nosso terceiro dia na India, foi o dia de visitar a casa de Rajesh. O motorista nos pegou no hotel lá pelas 11 e após quase 1 horas chegamos em nosso destino. Estávamos em 6 pessoas, eu, Gwenny, Jan ( o alemão), Amerins, a mãe e a irmã (holandesas). No caminho vimos o litoral, o porto, muitos caminhões carregando containers atrasavam nossa jornada, muitas casas pobres a beira da rodovia estavam sendo demolidas, muitos carros, ônibus sem vidros, caminhões, uma loucura total. Quando de repente o carro entrou numas ruas menores de terra, sem movimento, sem pessoas na rua e parou! Chegamos. A casa estava toda enfeitada pelo lado de fora, com flores, tecidos coloridos para celebrar o casamento de um dos membros da casa.

Fomos recebidos pelo Tio do Rajesh, chamarei ele de Uncle, pois foi assim que o chamávamos, já que não conseguia entender nenhum nome, muito menos recordá-los mais tarde.

Uma das coisas que não faltou na casa do Rajesh foi sorriso! Senti-me tão feliz, por ser tão bem recebida, era um carinho, uma energia boa, que deu até vontade de chorar, de felicidade, claro. Uncle nos recebeu no portão, tiramos os sapatos e entramos na sala. Rajesh estava vestindo a camiseta que a minha mãe deu para ele com os dizeres: "Água que passarinho não bebe". Fiquei surpresa e contente! A mãe do Rajesh, uma senhora muito sorridente, nos deu o sinal na testa de boas-vindas, uma marca com tinta vermelha entre as sombracelhas.

Sentamos em cadeiras na sala e, em poucos minutos, Rajesh nos trouxe água de côco, hum que delícia, que saudade! Depois de tomado toda a água, Uncle abriu o côco para gente comer a "carninha" e dentro, suculenta!
Demos uma voltinha para conhecer a casa. O quintal não era tão grande, mas havia um poço para captar água, havia um coqueiro carregado. A mãe do Rajesh estava na cozinha preparando o almoço com a ajuda da Tia, esposa do Uncle. Estavam preparando muita comida, a Tia estava no chão sentada dando os últimos retoques na comida. É muito comum as pessoas cozinharem no chão, já havia observado em outros lugares.

A irmã do Rajesh chegou algum tempo depois vestindo um lindo saree com pedrinhas brilhantes. Ela, como havia conhecido por foto, é muito bonita, e mais escura. Segundo Rajesh após ter o bebê, a pele dela escureceu mais. O bebê, se não me engano estava com 2 semanas, e já tinha várias pulseira nos bracinhos e, claro, a pequena marca no terceiro olho.

Rajesh havia pedido para elas cozinharem arroz de várias formas diferentes, as quatro panelas abaixo eram de arroz, com sabores totalmente diferentes! Um melhor que o outro. O que eu mais gostei foi o com iogurte! Rajesh nos contou mais tarde que no meio da preparação do almoço, ele viu a mãe cortando várias pimentas para colocar na comida e conseguiu tirar a tempo! E mesmo assim ainda estava apimentada, mas nem por isso menos saborosa.

Fomos conhecer o terraço enquanto eles arrumavam a sala para o almoço. O terraço estava coberto com uma tenda de tecido colorido, lindo por sinal, para fazer sombra e ter uma ambiente fresco para um bate papo.

Em pouco minutos fomos chamados para o almoço. Havia esteira no chão para sentarmos e folha de bananeira para seis pessoas. A mãe do Rajesh e as tias ia colocando um pouco de cada comida na folha de bananeira. A flexibilidade delas era impressionante. Elas ficavam com o corpo dobrado para frente, quase que encostando a cabeça no chão. Estou longe de conseguir encostar as mãos nos pés com as pernas esticadas, e elas, além de fazer isso, ainda colocavam comida para gente.

Era comida totalmente vegetariana. Além dos 5 tipos de arroz, havia um molhinho de manga, um molhinho de tomate meio doce e a Raitha que eu adoro! Enquanto comíamos, Rajesh e a família dele nos observava, alegres e curiosos para saber se estávamos gostando, e assim que via que uma das comidas acabavam em nossa folha de bananeira, vinham imediatamente completar.  A comida estava deliciosa, divina, ainda estava um pouco apimentada para mim, mas com a ajuda do arroz com iogurte que cortava bem a pimenta, consegui comer tudo e mais um pouco. Não senti falta de carne, pelo contrário, comi pra caramba, sério, fazia tempo que não comia daquele jeito.


Para comer no chão, você senta com as pernas cruzadas, posição de índio (lembra da escola?) e se inclina para frente para ficar mais perto da folha de bananeira e diminuir a distância entre a comida e sua boca, evitando assim fazer a maior sujeira. O que foi inevitável para nós novatos.
Uma das vantagens de comer no chão (ou desvantagem, dependo do ponto de vista) é que seu estomago fica comprimido, pois você fica inclinado para frente, e teoricamente come menos. Mas não funcionou para mim, de jeito nenhum.

Comer com as mãos foi algo difícil no começo, sentia aquela sensação de estar fazendo coisa errada e no subconsciente esperava levar um tapa na mão e alguém dizendo "não pode comer com a mão menina". Mas depois de superado esse bloqueio de infância, de não poder comer com as mãos, comecei a gostar, mas isso  não significa que eu consegui. Na verdade é bastante difícil comer com as mãos e não fazer sujeira, você acaba lambendo os dedos após cada "mãozada"e assim o arroz vai grudando nos dedos e fazendo a maior sujeira. Lamber os dedos não é educado na cultura indiana, é feio na verdade, mas era inevitável.
Comi tanto, que não cabia mais nada, estava explodindo. Era difícil dizer não para a mãe e as tias do Rajesh que estavam nos servindo, eles faziam uma cara tristinha, de desapontados quando recusávamos, que não tinha como dizer não, e assim comia mais e mais. Mas chegou uma hora que não dava mais, ia passar mal. Nem a sobremesa consegui mais comer. A única coisa que consegui fazer foi me mover até o terraço e me esticar no chão. E lá fiquei por algum tempo. Até um cochilo tirei.


Esse foi o dia que conhecemos nosso saree, lindos! Depois contarei mais detalhes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...