quinta-feira, 30 de junho de 2011

Chegou a minha vez - a defesa


Dessa vez eu era a protagonista. Eu seria a candidata a PhD. Eu seria bombardeada de perguntas. Eu que estaria tremendo de nervos na frente de todos e tentando transparecer a calma e simpatia. 
Dois dias antes do dia do Juízo Final descobri, com a ajuda do acaso, que o local da minha defesa havia mudado. Foi ai que meu nervosismo começou, numa sexta-feira à noite.
Bispo chegou todo feliz e contente mostrando o jornalzinho da Universidade onde havia publicado todas a defesas do mês de junho, inclusive a minha. Fiquei animadíssima, peguei o jornal e fui procurar meu nominho. E lá estava. Meu nome, o título da tese, a data e o local. O que?? Como assim ? Doopsgeznfe Kerk? Kerk = igreja. E o Prédio Acadêmico (Academic Gebouw)? Aquele lindo, cheio de vitrais e pinturas, com bancos de madeiras e estofados de veludo? E os 90 convites que entreguei? Todos com o endereço errado! E os professores da banca? Desespero foi pouco. Mas o que eu poderia fazer? Era sexta-feira à noite! Sábado e domingo também não se poderia fazer nada, pois a universidade não abre. O que me restou foi esperar até segunda-feira para confirmar. Acordaria às 7 da manhã, me aprontaria e ia conferir o local da minha defesa. Esse era o plano. Mas e depois? Ficar esperando onde? 
Conversei com meus paraninfos sobre esse pequeno problema, e eles disseram que iriam mais cedo no Academic Gebouw confirmar para mim. Ufa, ainda bem que tenho paraninfos para me acalmar.

Sábado à tarde fui conhecer a tal igreja. Ela fica meio escondidinha, no meio do quarteirão, no meio mesmo, pois para entrar tem um corredor entre dois prédios, e a igreja fica atrás dos prédios. A igreja é aparentemente nova, feita de tijolo, em formado arredondado, bem clean, até demais, 2 vitrais coloridos, sem imagem de santo, Jesus ou Virgem Maria, nada. Cadeiras de madeiras simplérrimas, nada de veludo, nada de Glamour. Bateu a tristeza. Poxa, esse é meu segundo doutorado, nem vai valer muito mesmo, o que vai contar para meu CV é o doutorado brasileiro, então, que pelo menos minha defesa fosse na sala glamourosa. Mas não. Foi nessa igreja sem glamour algum. Enfim, tem coisas que não controlamos. Antes defender naquela igreja que não defender, foi o lema apresentado pelo Bispo. Realmente, a angustia dessa defesa era tanta, que se fosse para defender no meio da rua eu iria feliz e contente.

Às 9:30 da manhã do dia 20 de junho, estava eu secando minhas medeixas quando o telefone toca "Hei Roberta, sua defesa será mesmo na igreja, não tem nada avisando no Academic Gebouw, a Gwenny (minha co-orientadora) ficará aqui até minutos antes da defesa para avisar para as pessoas o local exato". Fico aliviada ou mais nervosa com o telefonema? Não havia nada que eu poderia fazer. Se não fosse ninguém da platéia, não haveria problema, pois ficaria menos nervosa. Se não fosse ninguém da banca, melhor ainda, não foi minha culpa, quem deveria ter avisado era a Universidade, que nem me avisou também. Receberia o diploma sem mesmo defender. 
Mas não foi bem assim, obviamente. O mestre de cerimônia, ficou esperando os professores no Academic Gebouw e os conduziu até a igreja, que ficava a 200 m apenas. Poxa. Não foi dessa vez que ia ganhar o diploma sem defender : (

Cheguei na Igreja às 10:15 da manhã. A defesa começaria às 11 horas pontualmente. Encontrei o meu Promotor (Orientador) quando virei a esquina. Tremi. Ele já sabia onde era o local certo, pois estava voltando de lá e indo para o Academic Gebouw. Então todos já sabiam. Aliviada ou nervosa? Nervosa, sempre.
O combinado é chegar 30 min antes e ficar aguardando numa salinha especial, juntamente com meu paraninfos, a hora do julgamento. E lá fomos para a salinha, a sala dos padres, bem atrás do altar, uma mesa comprida de madeira cheia de cadeiras ao redor preenchia toda a sala de. Três garrafas de água na mesa, queria mesmo algo forte para acalmar os nervos. Cadê aquele vinho que se usa para molhar a óstia? Ficamos na água mesmo. Não poderia beber muito para não dar vontade de ir no banheiro no meio da defesa. Meus pensamentos voavam. E se desse vontade de fazer xixi, o que faço? E se eu sentisse uma dor de barriga repentina?
Os 30 min de espera foram os mais rápidos da minha vida, logo o mestre de cerimônia nos conduziu para  o salão, Kaushal logo atrás dele, eu e a Karla, que levava meu livro. Cheguei no salão e ficamos no centro, da região que seria o altar. Vi a gwenny e sorri. Na verdade quase tive um ataque de riso, acho que era nervoso. Ou será que era uma situação engraçada mesmo? Todo esse teatro et al.
 Ficamos eu e os paraninfos alinhados um do lado do outro e fizemos os comprimentos com o corpo, sabe daquele jeito japonês de inclinar o corpo para frente? Então, fizemos isso para esquerda e para direita. Em seguida, fui para minha mesa, bem no centro, virada para o público e entre as 2 mesas cheinhas de professores. Sentei-me. Respirei fundo. Vi o monte de cabos que estavam escondidos debaixo da mesa, tomando cuidado para não pisar e desconectar nenhum. Um deles era o do microfone. Assim que me sentei karla veio até minha mesa e entregou-me minha tese (com minhas anotações e minha caneta). Tinha um copo de água na minha mesa.
O chairman, o representante do Reitor, geralmente um professor aposentado, iniciou a defesa. Primeiro a perguntar foi o prefessor Nico Bos. Continuava nervosa, minha voz tremia. Meu medo era não entender a pergunta, não falar direito e não saber responder. Tudo isso aconteceu!! hahahahhaha mas o nervosismo pasou depois dos 5 primeiros minutos. Ai relaxei, se eu não sabia, eu enrolada, mas respondia qualquer coisa. Até que chegou na última pergunta. Faltando 10 min para acaber a professora, que eu não sabia que estaria lá, achou meu calcanhar de Aquiles. Respirei fundo. Repeti a pergunta, já sabendo que não sabia a resposta. Tentei enrolar, mas ainda restavam 10 min, infinitos 10 min. Tomei um gole de água, e disse "sinto muito mas não sei". Realmente era uma pergunta super difícil. Enfim. Ainda restou alguns minutos para a Gwenny fazer uma pergunta, e no meio da minha resposta o carinha com o bastão chega e fala "hora finita" EEEEEEEEHHHHHHHHH


Acabou!!! Saem os professores para decidir o resultado final. Na verdade eles saem para assinar o diploma. Saímos também, o mestre, kaushal eu e a karla, enfileirados. Esperamos uns 5 min na sala da paróquia.. Voltamos para a altar, de pé em frente a mesa dos professores. Os dois paraninfos ao meu lado, ligeiramente atras.
O representante do Reitor dá o veredito final. Passa a palavra ao Promoter. Essa é a hora que o promoter fala algumas palavras amigas para o aluno, conta sobre o percurso dele no laboratório. Mas meu promoter sempre foi distante, então ele deixou que minha co-promoter, a Gwenny fizesse essa parte. Mas antes disso, ele deu a gafe do ano, ao falar meu nome, ele falou o nome da Karla com meu sobrenome? Vê se pode?!

Palavra dada a Gwenny. A primeira frase foi em Português, já comecei a ficar emocionada ali. Ele preparou um texto enorme, lindo, contando sobre minha vida, meu jeito de ser no laboratório, sobre nossa viagem a India, sobre os momentos divertidos que passamos juntas! Foi muito legal. As lágrimas cairam dos meus olhos.

Recebi meu diploma enorme e um livro sobre a cidade de Groninge, aqueles livros de deixar na mesa de centro, sabe? Super legal!
Acabou, os professores sairam da sala e eu fiquei ali, com meu diploma, com meus amigos e minha família.
Estavas prestes a chorar. Sabe aquele choro de alívio, aquele de soluçar? Não poderia, ia ficar feio, todos estavam ali. Meus olhos encheram de lágrimas, ficaram vermelhos. As lágrimas pesavam. Não poderiam sair. Sai na frente, antes de todos e fui para o Academic Gebouw onde seria a recepção e fui para o banheiro. consegui me acalmar e  fui receber os comprimentos! Conversei com todos, recebi flores, conversei com os professores, com os amigos, bebi o tão desejado vinho. E ai foi só alegria.



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