A defesa da Guga

Mais uma defesa de PhD. E dessa vez, eu participava da cerimônia. Não, não era eu a canditada, e sim a Maria Augusta. Brasileira da gema, sofreu horrores a frieza das pessoas e do inverno daqui. Semana passada foi o dia da libertação dela para o Brasil. Seus pais vieram prestigiá-la, apoiá-la no julgamento final, onde o veredicto é ser ou não ser doutora. Na realidade são apenas formalidades, uma encenação, ninguém que chegou a essa fase foi reprovado. Mas a tensão, a pressão e o nervosismo são tão grandes que a sensação é de julgamento mesmo.

O local é uma antiga igreja em Rotterdam. Engraçado a defesa de doutorado ser em uma igreja. A defesa é o ritual de entrada oficial na Ciência, a arquinimiga da Religião.

A igreja era muito bonita, toda em madeira por dentro, com janelas de vitrais e dois andares de bancos, o terreo, e o primeiro como se fosse um camarote. O formato da Igreja era de um cubo, ao invés da forma de cruz que conhecemos no Brasil. 

Saímos de Amsterdam as 9 da manhã para chegarmos em Rotterdam as 10:30 e não ter correria. Como era paraninfa, meu dever era estar 30 min antes da defesa, portanto às 11:00.

A defesa lá é um pouco diferente de Groningen, há uma apresentação geral de 15 min sobre a tese, sobre as principais descobertas e conclusões e em seguida mais 45 min de perguntas. Cheguei ao local às 10:50 e o outro paraninfo não havia chegado ainda, Vincent, um amigo da Guga da Bélgica, super gente boa. Ele tinha acabado de ligar dizendo que o pneu do carro dele furou! Já começamos bem!! Após alguns minutos, uns 15 min ele chega de terno e com as mãos cheias de graxa. Ficamos aguardando na salinha especial até sermos chamados pela "mestre de cerimônia". Eu estava a mil, super nervosa, com medo de fazer alguma coisa errada, pois a ordem de entrada em fila era eu, Guga e Vincent. 

Chegou a hora, entramos enfileirados no salão. Guga já foi para trás da bancada dela. Eu e o Vincent ficamos em frente das nossas cadeiras, posicionada bem do lado da candidata, ou seja bem na frente. 

Minha posição era abaixo do painel onde foi projetado a aprensentação. Minha função ali era avisar a Guga a cada 5 min de apresentação e no último 1 min avisar desesperadamente que estava acabando.

Eu estava muito, muito nervosa, com certeza mais nervosa que ela, não sabia onde olhar, o que fazer com as mãos, tinha a sensação que todos me observavam. Acabei me enrolando para dar o sinal para Guga, no início olhei para ela, mas não era para avisar nada, era só para ver a apresentação mesmo, e ela se confundiu, obviamente. Eu percebi que ela percebeu que era o sinal dos primeiros 5 min e então parei de olhar para ela. Eu olhava para o nada, para o chão, para o teto, e mantinha as costas eretas e as pernas bem juntas, pois estava de vestido de uma algodão durinho e o maldito subia enquanto eu estava sentada. Quando deu 10 min eu consegui avisá-la e ela em seguida terminou a apresentação!! Ainda faltavam 4 para acabar! Mas foi tudo bem, o problema que esses 4 min foram transferidos para as perguntas.

Ela foi super bem, respondeu super bem as perguntas, falou super bem em inglês. E eu não tropecei, não cai, não fiz feio, acabou que deu tudo certo. Ela recebeu o diploma e estava super aliviada!