quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Experimento com animais

Sempre me recusei a fazer experimentação animal, mas chega uma hora, quando se trabalha com doenças humanas, que testes com animais são necessários para saber se seu composto de interesse, que funciona tão bem in vitro, em cultura de células ou tecido, funcionará também no sistema biológico como um todo, onde há interferência do ambiente, dos hormônios, do sexo, da idade, e inúmeras outras variáveis que um indivíduo pode ter.

Para trabalhar com animais na Holanda é necessário  fazer um curso de 4 semanas, 5 dias por semana, tendo aulas o dia inteiro, além de um trabalho em grupo onde temos que escrever um projeto para ser analisado e julgado pelos outros colega do curso, como se fosse o comitê de ética da Holanda. Um curso bem puxado, mas que com certeza, é importante e vale muito a pena, eu aprendi muitas coisas. O certificado obtido no final, apenas se você participou de todas as aulas, diz que você está legalmente apto a fazer experimentação animal e manipuar os animais de laboratório (porco, camundongo, porquinho da india, coelho, ratos) além dos animais silvestres. Sem esse certificado, não é permitido tocar nos animais.

Esse curso abrange inúmeros pontos essenciais para esse tipo de experimento, desde teoria como legislação nacional, bem estar do animal,  alimentação e anestesia até como a parte prática como imobilizar as cobaias (camundongo, rato, guinea pig, coelho), fazer suturas e aplicações via subcutânea, gavagem (administração de compostos direto na garganta) e peritoneal. A parte prática é apenas 1 dia do curso, o que, na minha opnião, é pouco, mas na verdade só se aprende a manipular os animais quando realmente tem que trabalhar com eles.

A experimentação animal aqui é muito controlada. Para conseguir aprovação do comitê de ética, é necessário descrever exatamente como será feito o experimento, qual o grau de sofrimento dos animais,  a razão do experimento e a estatística comprovando que aquele número de animais requisitado é o mínimo necessário para ter diferença estatística, tudo para evitar desperdício de animais. Se o experimento levar um nível muito alto de sofrimento para os animais, é apenas aprovado se o motivo for muito bom, e não tiver outro modelo experimental. Tudo é muito controlado, com muito respeito aos animais e muito correto.

No meu experimento eu injeto subcutaneamente (em baixo da pele) um composto que induz fibrose, ou seja, induzo uma cicatriz artificial na pele do camundongo. Por 21 dias, dia sim, dia não, os animais recebem um picadinha, na verdade duas, de um lado das costas eles recebem solucção fisiológica (como controle) e do outro lado o composto para induz a fibrose. Quando eu disser "eu", subentenda que  são os técnicos, pois eu ainda não tenho permissão para mexer com animais, então eu só levo as soluções e fico olhando do lado. Eu preciso marcar a entrevista para eles me explicarem como o prédio funciona (é isso mesmo, tem um prédio só para experimentos com animais! cool, isn't?) e ter meu acesso liberado ao prédio.

Estou com essa cara de *osta porque estava gripada e com sono, deu para perceber né?

Toda vez que você entra no prédio tem que trocar de roupas, um conjuntinho azul horrível que o IWO (nome do departamento de experimentação animal) fornece. É necessário tirar os sapatos e colocar um sapato branco, tipo aqueles Crocks. Após passar duas portas que só se abrem com o cartão habilitado, entra novamente em outro vestiário para colocar o sapato azul, o avental branco descartável, máscara, luvas e touca, ai sim você tem acesso as salas com o animais. Todo o manuseio dos animais é feito no fluxo laminar, ou seja, em ambiente estéril para evitar qualquer tipo de contaminação, portanto, o experimento tende a ter menor diferença entre os indivíduos do mesmo grupo, pois exclui, pelo menos, o fator ambiente. Cada gaiola, com apenas 4 camundongos (máximo permitido), tem suprimento de ar separadamente. Há água, ração, maravalha  (aqueles restos de carpintaria) e uma caixa de papelão para os animais se esconderem, pois isso diminui o estresse, aumentando o bem estar dos animais.

Hoje foi o dia do sacríficio dos animais. Eles foram anestesiados e depois sacrificados por deslocamento cervical. Na verdade eu não vi nada, estava tão perdida com meus inúmeros tubos, cassetes para colocar amostra de tecido para histologia que eu só via a técnica Marieke com um pedaço de pele segurado pela pinça.

No final até que deu tudo certo. JanWilliam, um outro PhD student me ajudou bastante, me passou uma check list das coisas que eu precisa ter pronto para o grande dia, e o que levar para o IWO, além disso ele foi lá comigo supervisionar e me explicar direitinho. Agora nessas duas semanas seguintes saberei realmente se deu tudo certo. Aprendi muita coisa, mas só quando eu for sozinha terei a prova real!

Um comentário:

  1. Robs,

    depois que conversamos sobre isso, eu só deixo de 3 a 4 animais por gaiola!! Me ajudou bastante também! E não repito mais experimentos! O que deu, deu!

    Obrigada!

    Bjs,

    Cacá

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