quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A questão do carro no Brasil

Ficamos um ano com um carro que meu pai emprestou pra gente, até conseguirmos se estabelecer de volta ao Brasil. Um carro de 1999 com mais de 200 mil km rodado. Mesmo velhinho, ele nos levou a muitos lugares, inclusive na nossa lua de mel. Carro simples que atendia muito bem as nossas necessidades.  Mas nos últimos meses, principalmente dezembro e janeiro, o carro ficou com ciúmes e resolveu chamar a atenção. Foram umas 3 visitas no mecânico, duas de guincho, e a outra foi minutos antes de fundir o motor. Foi o basta. Estávamos gastando horrores com ele e pior, ficávamos na mão. Foram 2 vezes que tivemos que pegar um guincho para continuar nossa viagem e 2 vezes que fomos parando a cada 20 min durante um percurso de 300 km. Imagine a paciência. A última vez foi a gota d'água. Decidimos pegar um carro novo.
Fizemos as contas e encomendamos na concessionária, que deu prazo de 90 dias para o carro novo chegar, o que ela ótimo, já que não tínhamos o dinheiro mesmo, daria tempo para juntar uma parte maior para a entrada. Mas em uma semana o carro chegou, por desistência de outro cliente e o carro passou para nós! Medo e ansiedade. Onde conseguir o dinheiro agora? Tinha que dar o sinal para segurar o carro. Bora fazer empréstimo  e sexta feira de carnaval lá estamos na concessionária buscando nosso primeiro filhote com quatro rodas! Debaixo de uma chuva torrencial, final de tarde, horário de pico, véspera de carnaval, quer trânsito melhor? E detalhe não sabíamos ligar o farol! Era muito novidade para gente, direção hidráulica, rádio, vidro elétrico!  Uma sensação engraçada, eu de carro zero!? Que esquisito! Era emoção engraçada, umm friozinho na barriga. Já senti essa sensação algumas vezes, a primeira que eu me lembre foi quando ganhei a minha primeira e única Barbie com 7 anos de idade. A segunda vez foi quando pisei em solo europeu pela primeira vez, "eu na Europa? Estou no livro de história!". E da vez a frase dentro de mim era "eu, de carro novo! Nossa!"

A questão sobre carro no Brasil é complicada. Quando morava na Holanda nunca precisei de carro, nunca mesmo, fazia tudo de bicicleta, ônibus, metro ou trem. Quando precisamos mudar, alugamos uma van, mas foi única vez. Eu achava estranho ver meus amigos aqui no Brasil mudando de carro a cada dois anos, todo mundo sempre de carro novo, achava um desperdício de dinheiro, supérfluo, exagero. Não conseguia entender essa paixão por carro dos brasileiros. Agora consigo entender um pouco, não é paixão é necessidade, é não ficar na mão por causa do carro.
O tempo que perdemos entre um lugar e outro quando usamos transporte público no Brasil é absurdamente enorme. E o pior que não dá para fazer mais nada a não ser esperar o ônibus chegar, talvez ouvir música apenas. Já tentei ler livros enquanto esperava no ponto, mas já perdi várias vezes o ônibus, principalmente quando eu era a única no ponto. Nunca sabemos que horas ele vai chegar. Em Campinas, no site da Emdec, tem a tabela de horários que os ônibus saem dos terminais e só, não há como saber que horas ele passa no meio do trajeto, pois o tempo do percurso varia no decorrer do dia e da semana.
Tempo é dinheiro, é lazer, é aprendizado, é estudo. É muito frustante quando perdemos tempo. As pessoas que vivem na correria do dia a dia não querem perder tempo esperando ônibus. Ninguém quer. E o que acontece? Todo mundo compra carro para chegar no trabalho na hora, sem imprevistos, chegar em casa mais cedo para brincar com as crianças, para ter o conforto do seu carro sem ficar se espremendo dentro dos ônibus e do metro. E o governo incentiva as pessoas a comprarem carro (inclusive a mim!)), abaixa o imposto do produto industrializado, o IPI, e assim todo mundo tem carro, às vezes dois (por causa do rodízio) e o trânsito fica caótico. A cidade implanta semáforos nas ruas para tentar melhor a bagunça. Vira uma uma zona. Tem uma rua em Barão Geraldo que tem menos de 2 km e tem 10 semáforos! Por isso a questão no carro no Brasil é ambígua, por um lado precisamos dele para nos locomover com eficiência, por outro, a eficiência é diminuida pelas ruas entupidas de carros, com apenas uma pessoa dentro. E a tendência é piorar, pois a venda de carros aumenta os cofres do governo, gera muitos empregos, gira o mercado econômico e, portanto, não pode parar. Todo mundo compra carro hoje em dia, até eu! Solução para melhorar o sistema, a não ser construir metrô e trem, eu não vejo.

Um comentário:

  1. Zoe, essa sensação de carro novo é muito engraçada! Por mais que seja uma coisa boba, a gente fica muito empolgada mesmo, rsrs
    Nós também trocamos de carro há 1 ano. Como vocês, nós tínhamos um carro velho que fazia muitas visitas ao mecânico, mas que ao mesmo tempo tinha muita história, afinal foram 12 anos com ele, rsrs.
    Mas daí quando pegamos um carro novo na consessionária (não foi zero, era semi-novo, tinha 1 ano de uso) foi a melhor sensação do mundo! Só o fato de ter segurança ao dirigir, estar nele, a direção hidráulica é outra coisa enfim, é como você disse, não é só luxo, é necessidade, a gente acostuma a não fazer mais nada sem o carro! Fazer o quê, né? hahaha
    bjs e bons passeios pra vcs!!!

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