Desde
pequena eu sempre gostei de passear. Minha mãe fala que quando alguém me
chamava para sair, para ir na casa de alguém, ou mesmo ir à padaria, eu me
arrumava rapidinho e dizia "Estou pronta". Sempre estive pronta para
sair, para passear para conhecer pessoas e lugares.
Uma vez, lembro que minha tia me levou a uma casa bem simples, com um quintal
grande, de terra batida, e tinha muitas pessoas vestindo branco. Elas cantavam,
dançavam. Era bem divertido, eu adorava.
Depois
de adulta, durante minha turbulência e inquietação, acabei chegando a um centro
de Umbanda, perto da minha casa. Lá senti um cheiro familiar, um incenso forte,
as pessoas vestiam branco também, cantavam músicas e de repente eu estava cantando
com elas, sabia todas as letras:
"Eu
vi mamãe Oxum na cachoeira,
sentada na beira do Rio
Colhendo lírio, lírio ê, colhendo lírios, lírios a,
colhendo lírio para enfeitar nosso congar"
Percebi
que o ambiente era familiar, e veio a memória de minha infância com a tia
Cleusa e me dei conta que já tinha ido em terreiro de Umbanda ou Candomblé, não
sei ao certo. Provavelmente foi terreiro de candomblé, mas ainda não sei e não
vou saber tão cedo, pois tia Cleusa não está mais entre nós. Na verdade não importa
mais.
Quando
eu tinhas meu 23 ou 24 anos, quando passava por uma turbulência emocional, foi
lá no Centro de Umbanda que recebi ajuda, foi lá que meu coração foi acalmado,
foi lá que recebi conselhos valiosos.
As
religiões que trabalham com espíritos são vista com olhos tortos pela sociedade
em geral. Para uma pessoa ignorante (no sentido literal, de não ter
conhecimento) a Umbanda é sinônimo de macumba, que é a mesma coisa que
candomblé. Para muitos espíritas, que teoricamente são estudados, tolerantes e
abertos, a Umbanda é uma religião primitiva, que se baseia em espíritos não
evoluídos, e na verdade se recusam a falar e aceitar os rituais umbandistas.
Digo isso pois já presenciei tais palavras. Na minha opnião o preconceito,
seja ele religioso, sexual, racial, é devido ao medo do desconhecido, e à falta de informação. Os pré conceitos que escuto sobre a Umbanda é porque a
pessoa não tem ideia do que se trata. E é por essa razão que resolvi falar
sobre a Umbanda hoje.
Tentarei
aqui esclarecer alguns tópicos importantes, tirar alguns preconceitos e mostrar
um pouco dessa religião tão rica, tão bonita que é a umbanda, e numa outra
oportunidade, falarei do candomblé, religiões diferentes, mas com alguns princípios semelhantes.
A
umbanda é uma religião totalmente brasileira, talvez a única. Foi iniciada pela
mistura dos rituais de cultos de religiões africanas, indígenas e a
católica.
A origem
Negros
de diversas tribos na África eram capturados e vendidos para fazendeiros em
colônias portuguesas, inclusive no Brasil, para trabalharem primeiramente nas
fazendas de cana de açúcar (engenhos) e, posteriormente, em plantações de café
Brasil. Para evitar rebeliões, já que quase sempre os escravos eram maioria, os
senhores misturavam negros de nações diferentes para dificultar a organização,
impedida pela barreira dialética. Era uma mistura de costumes, tradições e
religião. Além disso, os negros eram considerados povo pagão, assim como os
índios, portanto os jesuítas estavam decididos a catequizá-los, e aqueles que
não se convertiam eram punidos com violência. Para continuarem com seu rituais,
adaptaram seus deuses aos Santos católicos (evento chamado de sincretismo religioso) e, assim, apesar da diversidade religiosa, os negros se unificaram
pela religião, algumas divindades foram esquecidas, outras foram unidas, e assim
surgiu um novo ritual. Como era impedidos de realizarem qualquer atividade
religiosa dentro das senzalas, os escravos iam para as matas no meio da noite.
Naquela época os negros já tinham a simpatia dos índios, tanto pela semelhança
da cor da pele, quanto pelo sentimento em comum contra os brancos. Pela
convivência entre negros e índios, houve troca de conhecimento, junção de
rituais, cultos aos espíritos da natureza dos índios e o culto aos Orixás dos
negros.
Os Orixás
Orixás
sãos os deuses africanos. Deuses não são humanos, nem espíritos, é uma força,
uma energia maior que atuam sobre a natureza, sobre o planeta e são
manifestados pela própria natureza, assim, são divididos em quatro grupos
principais terra, água, fogo e ar. Encontramos, portanto, Orixás das matas, do mar, dos rios, etc. E como somos
parte da natureza, nossas vidas são influenciadas pelos Orixás também, assim,
surge os arquétipos. Do grego ache: principal e tipos: impressão, marca. Por
exemplo, quem é filho de Oxum, tem determinadas características como
determinação, competitivo, impaciente entre outras, como se fosse as
características dos signos do zodíaco. Para saber mais clique aqui.
Devido
ao sincretismo religioso, os Orixás estão associados aos Santos católicos, que
varia dependendo do estado brasileiro, por exemplo, Oxum é Nossa Senhora da
Conceição no Rio de Janeiro, Oxalá é Jesus Cristo no Paraná, Iemanjá é Virgem
Maria no Paraná, Oxossi é São Jorge na Bahia.
Exus
Os
Exus não são Orixás, são espíritos que já viveram na Terra e que se desviaram
do caminho do bem, cometeram vários crimes, mas agora se arrependeram e querem
continuar sua evolução espiritual e, para isso, trabalham com a prática da
caridade. Talvez por isso são associados erroneamente ao mal. Nos centros de
Umbambas podem incorporar nos médiuns (Gira de Exus) para o atendimento do
público dando conselhos, resolvem problemas pessoais etc. ou ainda podem ser
trabalhadores dos Pretos Velhos durante a Gira de Pretos-Velhos, ou outras
giras, para a abertura dos caminhos, proteção dos terreiros contras espíritos
do mal, proteção dos médiuns. São guardiões e por isso são espíritos sérios, de palavra, geralmente
usam uniformes de soldados e tem aparência intimidadora, tudo para combater o
mal. Vão a locais pesados, de grande energia negativa, para desfazer trabalhos,
resgatar espíritos sofredores etc.
Recomendo a leitura do livro “O Guardião da
meia-noite” de Rubens Saraceni para entender um pouco mais sobre os Exus e
tirar os preconceitos que ainda possa existir.
Pretos –velhos
São
espíritos extremamente evoluídos que em uma de suas encarnações, foram escravos
e viveram em Senzalas. Mas já viveram como médicos, filósofos, ricos,
sacerdotes, magos mas preferem se apresentar com a roupagem espiritual de velhos
negros para ensinar a humildade. São amorosos, não intimidam como os Exus,
curam, ensinam e educam as pessoas com toda a paciência do mundo. Não vão fazer
milagres, vão dar conselhos valiosos. Conhecem profundamente a magia branca, as
forças da natureza.
São
mestres da sabedoria e humildade. Quando incorporados, o médium fumam
cachimbos, falam pausadamente com sotaque peculiar.
Há
muito para falar dos pretos velhos, para saber mais clique aqui.
A
Umbanda de esquerda e de Direita
Totalmente enganados está aquele que pensa que um
linha faz o bem e outra faz o mal. Ambas tem o mesmo objetivo ajudar ao
próximo, fazer o bem. A diferença está nas entidades, nos espíritos, que
incorporam e trabalham nas sessões. Por exemplo, no centro de Umbanda que fui, havia os dias de Esquerda e os dias de Direita. No dia de Umbanda de Esquerda, eram os Exus e Pombas Giras que vinham atender ao público, e nos dias
de Direita eram os Pretos-Velhos. A diferença é que os Pretos-Velhos são mais evoluídos
espiritualmente. A diferença era nítida, os pretos velhos são amorosos,
bonzinhos, meigos, os Exus eram mais objetivos, bravos, sérios, os dois ajudam, fazem o bem.
O Culto
Como
só fui a um centro de Umbanda, vou falar um pouquinho de como é o ritual nesse
centro, pois varia de centro para centro. Os trabalhadores da casa se vestem de
branco, cor da paz e tranquilidade e ficam descalços, simbolizando a humildade.
Recomenda-se as pessoas irem de branco também e com roupas que cubra os ombros
e as pernas, em sinal de respeito.
O
salão todo é pintado de branco e é dividido em 2 partes, uma onde o
pai de santo fica juntamente com outros médiuns (os cavalos) e a outra parta
ficam as pessoas que vão buscar ajuda, auxílio para suas aflições, problemas ou
enfermidades. Há cheiro de incenso no ar bem característico.
Inicia-se
os batuques e uma pessoa puxa o cântico. Isso faz com que as pessoas parem de
conversar e de pensar sobre os problemas que as afligem, todos pensam as mesmas
coisas, cantam a mesma música, falam a mesma coisa e o ambiente é assim
harmonizado.
Após
umas 5 músicas mais ou menos, inicia-se a "incorporação" dos médiuns
com os espíritos do dia. Quando é a Gira dos Preto-velhos, percebem que os
médium ficam com aparência de velhos, idosos, andam encurvados com bengalas. A
palavra incorporação é mal empregada, pois ninguém toma o corpo de ninguém, o
que acontece é que o espírito desencarnado se aproxima do médium, e este
transmite as palavras, as características do espírito. Mas mesmo assim vou usar
esse termo para facilitar.
A
maioria dos médium da Umbanda são inconscientes, ou seja, não lembra de nada
que o espírito falou por seu intermédio, ou fez. Muitas vezes eles fumam, bebem
cachaça e não se embriagam, muito menos se lembram do que disseram. É um evento
complexo que me faltam palavras pra explicar como ocorre. Mas acho que deu para
entender mais ou menos, ou não?.
O
espíritos que vão lá "incorporar" pode ser de diferentes falanges
(grupos), por exemplo, há dias da semana que os trabalhos são feitos pelos
Preto-Velhos (Gira de Pretos-velhos, linha da direita) e outro dia da semana
Exus (Gira, de Exu, linha de esquerda). Há também o dia dos Baianos, caboclos,
crianças, etc.
Vou
usar a Gira dos Pretos-velhos como exemplo.
As
pessoas antes do trabalho pegam um senha para se consultador com o Preto-velho
de sua preferência. Depois da incorporação, os pretos velhos fazem seus
trabalhos espirituais e depois começam os atendimentos ao público. Os pretos
velhos são como psicólogos, dão conselhos, acalmam os corações aflitos e
indicam algum chá, algum banho para amenizar a enfermidade ou angustia que a
pessoas estão sentindo.
Há
muito que se falar sobre Umbanda, meu intuito aqui é dar uma visão geral, tentar
tirar alguns preconceitos. Para saber mais recomendo pesquisarem em outros
sites, mas tenham sempre o senso crítico, pois tem muita besteira por ai. Fonte
boa são os livros do autor Robson Pinheiro como o “Sabedoria de Pretos-Velhos”.
Recomendo o site de um centro/terreiro de Umbanda do Paraná http://www.terreirotioantonio.com.br/
Oi querida Rô,que gostoso te "encontrar" aqui outra vezz, primeiro entrava todo dia, depois fui deixandooo, e ultimamente entrava cada mes...ou algo assim.Fiquei feliz com as noticias , oxalá tua realidade seja melhor que teus sonhos.
ResponderExcluirBeijinhos
Quiquinha
Oi quica, obrigada por nao me abandonar! estou de volta a todo vapor!!
ResponderExcluirbeijos