segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A Umbanda


Desde pequena eu sempre gostei de passear. Minha mãe fala que quando alguém me chamava para sair, para ir na casa de alguém, ou mesmo ir à padaria, eu me arrumava rapidinho e dizia "Estou pronta". Sempre estive pronta para sair, para passear para conhecer pessoas e lugares.


Uma vez, lembro que minha tia me levou a uma casa bem simples, com um quintal grande, de terra batida, e tinha muitas pessoas vestindo branco. Elas cantavam, dançavam. Era bem divertido, eu adorava.
Depois de adulta, durante minha turbulência e inquietação, acabei chegando a um centro de Umbanda, perto da minha casa. Lá senti um cheiro familiar, um incenso forte, as pessoas vestiam branco também, cantavam músicas e de repente eu estava cantando com elas, sabia todas as letras:

"Eu vi mamãe Oxum na cachoeira,
sentada na beira do Rio
Colhendo lírio, lírio ê, colhendo lírios, lírios a,
colhendo lírio para enfeitar nosso congar"

Percebi que o ambiente era familiar, e veio a memória de minha infância com a tia Cleusa e me dei conta que já tinha ido em terreiro de Umbanda ou Candomblé, não sei ao certo. Provavelmente foi terreiro de candomblé, mas ainda não sei e não vou saber tão cedo, pois tia Cleusa não está mais entre nós. Na verdade não importa mais.

Quando eu tinhas meu 23 ou 24 anos, quando passava por uma turbulência emocional, foi lá no Centro de Umbanda que recebi ajuda, foi lá que meu coração foi acalmado, foi lá que recebi conselhos valiosos.

As religiões que trabalham com espíritos são vista com olhos tortos pela sociedade em geral. Para uma pessoa ignorante (no sentido literal, de não ter conhecimento) a Umbanda é sinônimo de macumba, que é a mesma coisa que candomblé. Para muitos espíritas, que teoricamente são estudados, tolerantes e abertos, a Umbanda é uma religião primitiva, que se baseia em espíritos não evoluídos, e na verdade se recusam a falar e aceitar os rituais umbandistas. Digo isso pois já presenciei tais palavras. Na minha opnião o preconceito, seja ele religioso, sexual, racial, é devido ao medo do desconhecido, e à falta de informação. Os pré conceitos que escuto sobre a Umbanda é porque a pessoa não tem ideia do que se trata. E é por essa razão que resolvi falar sobre a Umbanda hoje. 

Tentarei aqui esclarecer alguns tópicos importantes, tirar alguns preconceitos e mostrar um pouco dessa religião tão rica, tão bonita que é a umbanda, e numa outra oportunidade, falarei do candomblé, religiões diferentes, mas com alguns princípios semelhantes.

A umbanda é uma religião totalmente brasileira, talvez a única. Foi iniciada pela mistura dos rituais de cultos de religiões africanas, indígenas  e a católica.

A origem

Negros de diversas tribos na África eram capturados e vendidos para fazendeiros em colônias portuguesas, inclusive no Brasil, para trabalharem primeiramente nas fazendas de cana de açúcar (engenhos) e, posteriormente, em plantações de café Brasil. Para evitar rebeliões, já que quase sempre os escravos eram maioria, os senhores misturavam negros de nações diferentes para dificultar a organização, impedida pela barreira dialética. Era uma mistura de costumes, tradições e religião. Além disso, os negros eram considerados povo pagão, assim como os índios, portanto os jesuítas estavam decididos a catequizá-los, e aqueles que não se convertiam eram punidos com violência. Para continuarem com seu rituais, adaptaram seus deuses aos Santos católicos (evento chamado de sincretismo religioso) e, assim, apesar da diversidade religiosa, os negros se unificaram pela religião, algumas divindades foram esquecidas, outras foram unidas, e assim surgiu um novo ritual. Como era impedidos de realizarem qualquer atividade religiosa dentro das senzalas, os escravos iam para as matas no meio da noite. Naquela época os negros já tinham a simpatia dos índios, tanto pela semelhança da cor da pele, quanto pelo sentimento em comum contra os brancos. Pela convivência entre negros e índios, houve troca de conhecimento, junção de rituais, cultos aos espíritos da natureza dos índios e o culto aos Orixás dos negros.

Os Orixás

Orixás sãos os deuses africanos. Deuses não são humanos, nem espíritos, é uma força, uma energia maior que atuam sobre a natureza, sobre o planeta e são manifestados pela própria natureza, assim, são divididos em quatro grupos principais terra, água, fogo e ar. Encontramos, portanto, Orixás  das matas, do mar, dos rios, etc. E como somos parte da natureza, nossas vidas são influenciadas pelos Orixás também, assim, surge os arquétipos. Do grego ache: principal e tipos: impressão, marca. Por exemplo, quem é filho de Oxum, tem determinadas características como determinação, competitivo, impaciente entre outras, como se fosse as características dos signos do zodíaco. Para saber mais clique aqui.

Devido ao sincretismo religioso, os Orixás estão associados aos Santos católicos, que varia dependendo do estado brasileiro, por exemplo, Oxum é Nossa Senhora da Conceição no Rio de Janeiro, Oxalá é Jesus Cristo no Paraná, Iemanjá é Virgem Maria no Paraná, Oxossi é São Jorge na Bahia.




Exus

           Os Exus não são Orixás, são espíritos que já viveram na Terra e que se desviaram do caminho do bem, cometeram vários crimes, mas agora se arrependeram e querem continuar sua evolução espiritual e, para isso, trabalham com a prática da caridade. Talvez por isso são associados erroneamente ao mal. Nos centros de Umbambas podem incorporar nos médiuns (Gira de Exus) para o atendimento do público dando conselhos, resolvem problemas pessoais etc. ou ainda podem ser trabalhadores dos Pretos Velhos durante a Gira de Pretos-Velhos, ou outras giras, para a abertura dos caminhos, proteção dos terreiros contras espíritos do mal, proteção dos médiuns. São guardiões e por isso são espíritos sérios, de palavra, geralmente usam uniformes de soldados e tem aparência intimidadora, tudo para combater o mal. Vão a locais pesados, de grande energia negativa, para desfazer trabalhos, resgatar espíritos sofredores etc.
Recomendo a leitura do livro “O Guardião da meia-noite” de Rubens Saraceni para entender um pouco mais sobre os Exus e tirar os preconceitos que ainda possa existir.

Pretos –velhos

São espíritos extremamente evoluídos que em uma de suas encarnações, foram escravos e viveram em Senzalas. Mas já viveram como médicos, filósofos, ricos, sacerdotes, magos mas preferem se apresentar com a roupagem espiritual de velhos negros para ensinar a humildade. São amorosos, não intimidam como os Exus, curam, ensinam e educam as pessoas com toda a paciência do mundo. Não vão fazer milagres, vão dar conselhos valiosos. Conhecem profundamente a magia branca, as forças da natureza.
São mestres da sabedoria e humildade. Quando incorporados, o médium fumam cachimbos, falam pausadamente com sotaque peculiar.
Há muito para falar dos pretos velhos, para saber mais clique aqui.



A Umbanda de esquerda e de Direita

Totalmente enganados está aquele que pensa que um linha faz o bem e outra faz o mal. Ambas tem o mesmo objetivo ajudar ao próximo, fazer o bem. A diferença está nas entidades, nos espíritos, que incorporam e trabalham nas sessões. Por exemplo, no centro de Umbanda que fui, havia os dias de Esquerda e os dias de Direita. No dia de Umbanda de Esquerda, eram os Exus e Pombas Giras que vinham atender ao público, e nos dias de Direita eram os Pretos-Velhos. A diferença é que os Pretos-Velhos são mais evoluídos espiritualmente. A diferença era nítida, os pretos velhos são amorosos, bonzinhos, meigos, os Exus eram mais objetivos, bravos, sérios, os dois ajudam, fazem o bem.

O Culto

Como só fui a um centro de Umbanda, vou falar um pouquinho de como é o ritual nesse centro, pois varia de centro para centro. Os trabalhadores da casa se vestem de branco, cor da paz e tranquilidade e ficam descalços, simbolizando a humildade. Recomenda-se as pessoas irem de branco também e com roupas que cubra os ombros e as pernas, em sinal de respeito.
O salão todo é pintado de branco  e  é dividido em 2 partes, uma onde o pai de santo fica juntamente com outros médiuns (os cavalos) e a outra parta ficam as pessoas que vão buscar ajuda, auxílio para suas aflições, problemas ou enfermidades. Há cheiro de incenso no ar bem característico.
Inicia-se os batuques e uma pessoa puxa o cântico. Isso faz com que as pessoas parem de conversar e de pensar sobre os problemas que as afligem, todos pensam as mesmas coisas, cantam a mesma música, falam a mesma coisa e o ambiente é assim harmonizado.

Após umas 5 músicas mais ou menos, inicia-se a "incorporação" dos médiuns com os espíritos do dia. Quando é a Gira dos Preto-velhos, percebem que os médium ficam com aparência de velhos, idosos, andam encurvados com bengalas. A palavra incorporação é mal empregada, pois ninguém toma o corpo de ninguém, o que acontece é que o espírito desencarnado se aproxima do médium, e este transmite as palavras, as características do espírito. Mas mesmo assim vou usar esse termo para facilitar.
A maioria dos médium da Umbanda são inconscientes, ou seja, não lembra de nada que o espírito falou por seu intermédio, ou fez. Muitas vezes eles fumam, bebem cachaça e não se embriagam, muito menos se lembram do que disseram. É um evento complexo que me faltam palavras pra explicar como ocorre. Mas acho que deu para entender mais ou menos, ou não?.
O espíritos que vão lá "incorporar" pode ser de diferentes falanges (grupos), por exemplo, há dias da semana que os trabalhos são feitos pelos Preto-Velhos (Gira de Pretos-velhos, linha da direita) e outro dia da semana Exus (Gira, de Exu, linha de esquerda). Há também o dia dos Baianos, caboclos, crianças, etc.
Vou usar a Gira dos Pretos-velhos como exemplo.
As pessoas antes do trabalho pegam um senha para se consultador com o Preto-velho de sua preferência. Depois da incorporação, os pretos velhos fazem seus trabalhos espirituais e depois começam os atendimentos ao público. Os pretos velhos são como psicólogos, dão conselhos, acalmam os corações aflitos e indicam algum chá, algum banho para amenizar a enfermidade ou angustia que a pessoas estão sentindo.

Há muito que se falar sobre Umbanda, meu intuito aqui é dar uma visão geral, tentar tirar alguns preconceitos. Para saber mais recomendo pesquisarem em outros sites, mas tenham sempre o senso crítico, pois tem muita besteira por ai. Fonte boa são os livros do autor Robson Pinheiro como o “Sabedoria de Pretos-Velhos”. Recomendo o site de um centro/terreiro de Umbanda do Paraná http://www.terreirotioantonio.com.br/ 





2 comentários:

  1. Oi querida Rô,que gostoso te "encontrar" aqui outra vezz, primeiro entrava todo dia, depois fui deixandooo, e ultimamente entrava cada mes...ou algo assim.Fiquei feliz com as noticias , oxalá tua realidade seja melhor que teus sonhos.
    Beijinhos
    Quiquinha

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  2. Oi quica, obrigada por nao me abandonar! estou de volta a todo vapor!!
    beijos

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