domingo, 24 de novembro de 2013

A doença celíaca

Como descobri

Desde muito pequena, sempre fui uma criança que passava mal com comida, durantes a viagens ou em casa mesmo. Era entrar no ônibus e vomitar. Era comer pastel vomitar. Era comer pizza ou macarrão e passar super mal. Na adolescência comecei a ter muita azia, que eu associava a frituras, queijos, molhos e gorduras. A azia passou a gastrite. Comecei a visitar inúmeros gastroenterologistas. Fiz muitas endoscopias, tomei muito omepazol, pantoprazol e até cheguei a cogitar uma operação de hérnia de hiato. Mas preferi controlar a alimentação e fui melhorando. Voltei para o Brasil e o estresse de começar uma nova vida por aqui agravou minha gastrite: casamento, procura de emprego, dinheiro acabando etc.

Depois que consegui meu atual emprego, tive que mudar de convênio e por conseqüência, de médico também. Minha escolha por médico foi baseada na localização do consultório, uma vez que ninguém que eu conheço tinha o mesmo convênio que eu par me indicar algum.

Fui à consulta já com meus exames prévios de endoscopia e ultrasson abdominal, mas o médico não quis nem ver, solicitou outro e ponto. Era ele mesmo quem fazia o exame, portanto, acredito que ele não confiava em  outros médicos! Na consulta, o médico um pouco seco, bravo até,  sugeriu retirar uma biopsia do intestino para ver se eu não tinha "alergia a carboidrato" e recomendou fazer um teste de 2 semanas sem comer carboidrato. Eu, bioquímica que sou, não conhecia nenhuma doença que a pessoa tem alergia a carboidrato, acho que ele queria dizer gluten, mas como ele achou que estava falando com uma porta, ele falou carboidrato para englobar todas as possibilidades.

Mas que jeito ficar sem carboidrato??? Alergia a carboidrato? Onde já se viu? Tudo é carboidrato, além de massas, bolos, e guloseimas, frutas, arroz, batata, feijão e legumes em geral tem carboidratos (glicose, sacarose, frutose, maltose, e tudo que for ose). Iria comer carne e alface apenas? Claro que não né!
Fiz o exame, e continuei comendo as minhas coisinhas. Quando retornei ao médico ele até ficou bravo comigo, por não ter feito o que ele pediu. Quando vi o resultado da biopsia, quase cai para trás: estava escrito lá: diagnóstico favorável a doença celíaca.

A doença

Que raios é doença celíaca? Sabia que tinha a ver com glúten, mas o que realmente era não sabia.
Comecei a pesquisar e vi que o diagnóstico não era muito preciso e o teste mais preciso era mesmo a biopsia. Ou seja, eu tinha mesmo.

Doença celíaca é um enteropatia (doença intestinal) autoimune, que afeta pessoas com predisposição genética e é induzida pela ingestão de alimentos que contém glúten. Glúten é uma proteína presente em sementes de muitos cereais, dentre eles, trigo, aveia, cevada, centeio malte.

O glúten causa uma resposta inflamatória que leva à atrofia das vilosidades do intestino delgado, aquelas voltinhas que a parede do intestino tem para aumentar a área de absorção de nutrientes, uma vez sem as vilosidades, há má absorção de nutrientes, vitaminas, sais minerais e água.

Os sintomas

Os sintomas são dos mais diversos,  e de diferentes graus, de acordo com o tipo da doença que o indivíduo tem. A deonça é dividida em:

1. Clássica

É percebida já na infância, entre o primeiro e terceiro ano de vida, pois a crinaça começa a apresentar diarréia crônica, vômito desnutrição,  após comer alimentos como papinha de pao, sopas de macarrão, bolachas entre outros alimentos industrializados e como conesquência a criança apresenta déficit do crescimento, anemia ferropriva não curável, emagrecimento, barriga inchada, vômitos, dor abdominal.

2. Não clássica

A pessoa apresenta alterações gastrintestinais leves que não chamam tanto a atenção, por exemplo, anemia (sim eu tenho!), irritabilidade (sim eu tenho!), fadiga (sim eu tenho!), baixo ganho de peso (essa eu queria ter rs!) e estatura, prisão de ventre, constipação intestinal crônica, manchas e alteração do esmalte dental,
esterilidade e osteoporose antes da menopausa.

3. Assintomática

A pessoa não apresenta sintomas, portanto fica difícil de diagnosticas e tratar. O problema que se a pessoa continua ingerindo glúten, começa a aparecer doenças como câncer de intestino, anemia, osteoporose, abortos de repetição e esterilidade, que fica difícil relacionar com a doença celíaca.


Depois de ler sobre os sintomas, vi que me encaixava entre a doença clássica e a não clássica. Passava mal com freqüência após me empaturrar de pizza, macarrão, pastel entre outros. Já nem gostava dessas comidas, parecia que meu  corpo já ia rejeitando o que me fazia mal. Em festas de aniversário, raramente comia o bolo de aniversário. Nunca sugeri para irmos em pizzarias. Em restaurantes, nunca pedia massas e quando pedia, era certeza que ia vomitar.

Durante minha vida na Holanda (onde eu vivia a base de pão e cerveja!) minhas unhas eram fracas, descamava, perdi muito cabelo, até achei que era alopécia androgenética, tinha muito sono, estava sempre cansada (que eu achava que era depressão, poderia até ser, mas com certeza o glúten agrava o quadro).
Depois do diagnóstico, vi que muitas pessoas relatam que viviam como zumbis antes de descobri a doença, e para mim não era diferente. O sono que eu tinha durante o dia era algo fora da realidade. Após o almoço então, era uma tortura me manter acordada. Tudo fazia sentido.

Ah, por conseqüência da falta de vilosidades no intestino, onde abrigam bacterias que produzem a enzima lactase que degrada o açúcar do leite, a lactose, a pessoa celíaca acaba tendo intolerância a lactose também e eu sempre passava mal quando comia queijos, leite e iogurtes.

O tratamento

A cura para a doença celíaca é não comer glúten para o resto da vida, assim a pessoa nunca mais apresentará problemas. Simples né? Mas no início, meu mundo desmoronou. Na verdade, meu café da manhã desmoronou. O que eu ia comer no café da manhã? Almoço e janta estava tudo certo, não havia problema, mas e meu pãozinho com café? E minhas bolachas com leite? E as festas e churrascos regados a cerveja? E aquelas cervejas deliciosas? Ainda bem que não estou mais na Holanda, com as cervejas ruins daqui, não dá nem vontade de tomar mesmo! hehehe

O que comer

Agora sou aquela pessoa que fica procurando em cada embalagem no supermercado a frase "não contém gluten". Sempre li isso nas embalagens, mas nunca entendi o porquê, e hoje vejo o quão importante é.

Com calma e paciência, fui procurando, pesquisando e desenvolvendo receitas para o que comer, por exemplo no café da manhã tem pão de queijo (humm delícia), biscoito de polvilho, sequilhos, bolachas sem gluten da marca Vitao, lá do Paraná. Com iogurte tem que tomar cuidado, pois a maioria das marcas tem glúten, como Nestlé e Danone. A marca Vigor não contem glúten.
Depois de 7 tentativas, consegui fazer um bolo sem glúten que será tema do próximo post, mas pão ainda é um desafio. Depois conto sobre minhas aventuras com receitas sem glúten.

Minha vida sem glúten

Realmente minha vida mudou. Meus cabelos cresceram, minhas unhas não descamam mais, não sinto aquele sono avalassador durante o dia, nunca mais tive dor de estômago, nunca mais tomei omeprazol. Estou mais disposta, mais animada, mais saudável.

Hoje já me acostumei com a dieta, não passo tanta vontade, mas às vezes quando tem uma festa (aliás festas são baseadas em glúten), ou quando não tem nada para comer em casa, apenas pão, ou quando fico com vontade (ainda mais grávida), acabo comendo alguma coisinha, mas a consequência é inevitável, asia e má digestão na certa. E vejo que a alegria de comer esses alimentos não supera a o sintoma inevitável. E asim vou vivendo!



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